A Cibercultura e a Educação em Tempos de Mobilidade e Redes Sociais: Conversando com os Cotidianos


A cibercultura é a cultura contemporânea estruturada pelo uso das tecnologias digitais em rede nas esferas do ciberespaço e das cidades. Compreendemos tais esferas como espaçostempos cotidianos de ensinoaprendizagem, que preferimos nomear de redes educativas ou espaços multirreferenciais de aprendizagem. Os espaços multirreferenciais de aprendizagem são aqueles que contemplam e articulam diversos espaços, tempos, linguagens, tecnologias para além dos espaços legitimados pela tradição da ciência moderna. Aprendemos com a diversidade e a pluralidades de referências. (Alves, 2010; Macedo, 2011)

Para Santaella, “o ciberespaço é todo e qualquer espaço informacional multidimensional que, dependente da interação do usuário, permite a este o acesso, a manipulação, a transformação e o intercâmbio de seus fluxos codificados de informação” (2004, p. 45). Esse espaço informacional se constitui e é constituído pelas tecnologias digitais em rede, pois ampliam e potencializam a nossa capacidade de memória, armazenamento, processamento de informações e conhecimentos, e, sobretudo, de comunicação. A comunicação caracterizada pela liberação do polo da emissão, pela reconfiguração das mídias e pela conectividade generalizada, características tratadas por Lemos (2003) como “leis da cibercultura”.
A liberação do polo da emissão está presente nas novas formas de relacionamento social, de disponibilização da informação e na opinião e movimentação social da rede. Associando ao mesmo temos o fenômeno da digitalização da informação.

Reconfiguração – Trata-se de reconfigurar práticas, modalidades midiáticas e espaços sem a substituição de seus respectivos antecedentes.
Conectividade generalizada - Põe em contato direto homens e homens, homens e máquinas, mas também máquinas e máquinas, que passam a trocar informação de forma autônoma e independente.
Os softwares sociais são interfaces ou conjuntos de interfaces integradas que estruturam a comunicação síncrona e assíncrona entre praticantes geograficamente dispersos. “Interface” é um termo que, na informática e na cibercultura, ganha o sentido de dispositivo para encontro de duas ou mais faces em atitude comunicacional, dialógica ou polifônica. Forma-se assim um híbrido entre objetos técnicos e seres humanos em processos de comunicação e de construção de conhecimentos. Os softwares sociais são as interfaces de comunicação e que a redes sociais são em si a própria comunicação, ou seres humanos em processo de comunicação.

Atualmente compreendemos a cibercultura cada vez mais como a cultura da e na interface entre o ciberespaço e as cidades.
O conceito de rede social na internet parte da ideia de conectar praticantes com interesses comuns que interagem colaborativamente a partir da mediação sociotécnica e de suas conexões (Santos, 2010).

Os softwares de redes sociais, a exemplo do Orkut, Twitter, Facebook e Youtube, na sua grande maioria, são autorias da chamada “geração digital”, “geração net”, “geração alt-tab”, que se caracteriza não só por aplicar as tecnologias digitais em suas atividades cotidianas como também e, sobretudo, por instituir com seus usos diversas operações e processos desenvolvidos em rede.

Fazer circular uma informação, provocar uma discussão, articular e reconfigurar contextos, técnicas, discussões pode provocar mediações diversas, instituindo assim atos de currículos em espaços multirreferenciais de aprendizagem, pois potencializam, como nos alerta Ardoino, leituras plurais de seus objetos (práticos ou teóricos), sob diferentes pontos de vista, que implicam tanto visões específicas quanto linguagens apropriadas às descrições exigidas, em função de sistemas de referenciais distintos, considerados, reconhecidos explicitamente como não redutíveis uns aos outros, ou seja, heterogêneos (1998, p. 24).
Sendo assim, destacamos a importância de compreendermos os
fenômenos da cibercultura, suas potencialidades comunicacionais e
pedagógicas para que possamos não só interagir com nossos estudantes, que são em sua maioria praticantes, como também para instituirmos currículos mais sintonizados com as culturas do nosso tempo.

A educação online é o conjunto de ações de ensinoaprendizagem mediadas por interfaces digitais em rede no ciberespaço (interfaces, ambientes virtuais de aprendizagem, redes sociais da internet) e nas cidades (laboratórios de informática, infocentros, telecentros, lan houses, computadores e dispositivos móveis em espaços multirreferenciais – escolas, ONGs, empresas e universidades, entre outros). Essas ações podem ser planejadas ou espontâneas.

Os fundamentos interatividade, hipertexto, simulação, convergência, mobilidade e ubiqüidade no contexto da cibercultura, ganham potencialidade, por conta da materialidade plástica do digital e desta com as conexões sociotécnicas e culturais do ciberespaço, com as das cidades.
Interatividade - Atitude intencional no ato de se comunicar com o outro.
Hipertextos - Textos que se conectam a outros textos através da polifonia dos sentidos e significados que são criados nos contextos online e off line.
Simulação - Simular é virtualizar, questionar, inventar, criar e testar hipóteses. O sujeito pode simular coletivamente, em colaboração com os demais sujeitos geograficamente dispersos no ciberespaço e nas cidades.
Mobilidade - É uma das palavras-chave da cibercultura atual. O que muda com a cibercultura é que, mais que a portabilidade das mídias nas cidades, temos a nosso favor a conectividade com o ciberespaço e deste com as cidades.
Ubiquidade – Destaca a coincidência entre deslocamento e comunicação, pois o usuário comunica-se durante seu deslocamento.

Com a expansão das mídias digitais em rede (ciberespaço) e das mídias móveis, temos a possibilidade não só de produzir como também de fazer circular informações para além do desktop. A mobilidade física, tecnológica, conceitual, sociointeracional e temporal é realidade (Saccol; Schlemmer; Barbosa, 2011).
Cabe ainda ressaltar que a inclusão meramente tecnológica não garante a “inclusão cibercultural”, mas sabemos também que, sem aquela, esta não é possível. O acesso aos meios tecnológicos é fundamental, porém a instituição de práticas e políticas formativas é também essencial. Portanto, há a necessidade de investimento em formação inicial e continuada de professores para uso das tecnologias digitais na educação, em sintonia com a fase atual da cibercultura.

Mediante o exposto, a imersão na cibercultura é formativa; afinal aprendemos em rede e o ciberespaço é um espaço mutirreferencial de aprendizagem, pois permite interatividade com diversas culturas, linguagens, discursos, tecnologias.

Comentários