Análise do texto Valores Proclamados e Valores Reais nas Instituições Escolares Brasileiras (1962) - Anísio Teixeira

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Anísio Teixeira, em Valores Proclamados e Valores Reais nas Instituições Escolares Brasileiras (1962), relata que o Brasil buscava se espelhar no dualismo que ocorria nos países europeus, de modo que a elite desejava que a escola fosse transplantada. Segundo ele, um erro comum, pois aonde quer que fosse ser inserido, o sistema escolar deveria se adaptar a sociabilidade da época. O autor defende que o modelo não pode ser transferido, e sim, recriado em cada cultura. 
Para a classe dominante, não convinha a expansão do sistema escolar, especialmente de nível superior. A educação compulsória era retida pelo conservadorismo, de modo que os mais diferentes meios eram utilizados para dificultá-la, desde entravar recursos para o empreendimento, até a abreviação do período escolar. Decisões como essas eram e ainda são tomadas, a fim de dificultar a ordenação social, estagnando indivíduos, que na maioria das vezes, não possuem conhecimento do contexto social em que estão inseridos. 

“(...) porque a educação sempre foi isto, uma espécie de atirar-no-que-viu-e-matar-o-que não-viu, não se concebendo que haja exigência de tempo, espaço, equipamento, trabalho e dinheiro (...)”

Para o educador, na estrutura analisada, existiam dois tipos de escola, uma particular, secundária e rígida a qual atendia as necessidades da classe dominante, e outra reduzida, primária, de ensino técnico-profissional, comercial e agrícola, configurada como escola normal, destinada as grandes massas populares. A segmentação encontrada impedia a possibilidade de ascensão social, caracterizando, dessa forma, um estado de divisão social. A configuração passada conduziu a expansão das redes particulares de ensino, sendo estas evidenciadas como mais qualificadas, reguladoras, baratas e, por isso, vantajosas. Tal divisão, por infelicidade, ainda se faz presente, de modo que, os alunos provindos de classes sociais menos favorecidas recebem uma educação diferente da elitizada, mais flexível, enquanto os privilegiados, por meio de um preparo e instrução mais qualificados, são conduzidos ao êxito prenunciado. A expansão das instituições de ensino particular também exemplifica uma recorrência à década de 60, de tal forma que os trabalhadores de classe inferior, explorados, lutam para proporcionar uma falsa educação privada qualificadora para seus filhos, educação essa que não prepara o individuo para a vida, não trabalha a criticidade e a individualidade e sim, prepara-o para a técnica, para a formação trabalhista, de modo que vise atender aos interesses dos capitalistas. Dessa maneira, cabe a citação que representa o que foi afirmado: 
“A teoria da educação para a ilustração. (...) Tal educação seria sempre um bem em si mesma e que importaria distribuir a quantos se pudesse, mesmo em quantidades ínfimas. Não seria impróprio chamar-se tal concepção de concepção mágica de educação. Diante dela, a escola passa a ser um bem em si mesma e, como tal, sempre boa, seja pouca ou inadequada, ou mesmo totalmente ineficiente. Algo será sempre aprendido e o que fôr aprendido constituirá um bem.”

Anísio analisou ainda os conceitos de educação-bem-em-si-mesma e educação exclusivamente para fruição e lazer dominantes na realidade educacional brasileira descrita. A crítica feita é vigente no cenário nacional. O autor cita que os professores se faziam sobrecarregados e improvisados, com horários reduzidos. A realidade intimidadora repete-se, inclusive os profissionais não são valorizados no ambiente escolar, o que reflete, como conseqüência, numa abominação conjunta do magistério nacional. 

“Com a abolição e a república, entramos, porém, em período de mudanças sociais, que a escola teria de acompanhar. O modesto equilíbrio dos períodos monárquicos, obtido em grande parte às custas da lentidão de nossos progressos e de número reduzido de escolas, com que se procurava manter a todo transe a imobilidade social, rompe-se afinal e tem início a expansão do sistema escolar.”  
A partir do trecho descrito por Anísio, convém uma analogia à situação atual. Obstáculos como a falta de capacitação dos educadores, de planejamento curricular atualizado, democrático e flexível, de um projeto político-pedagógico eficiente e eficaz que esteja inserido em seu real contexto social e de interação, integração e comprometimento social e econômico dos envolvidos na comunidade escolar são impostos, de modo que a situação que se reflete e que é vivenciada, de instabilidade em diversos setores, especialmente no educacional, seja perpetuada, com o intuito de se fazer contínuo o equilíbrio das conjunturas dominantes.

Como se vê, as críticas feitas por Anísio Teixeira ao sistema educacional brasileiro ainda são atuais, visto que, o contexto educacional brasileiro atual carece de diversos recursos e expõe diversas deficiências num sentido geral e amplificado. Por eventualidade, o intelectual, em seu texto publicado em 1962, já possibilitava uma visão estendida do que se fazia, e, lamentavelmente, ainda se faz presente. Em síntese, de acordo com o que foi mencionado, cabe a citação do trecho do texto estudado para, posterior tomada de reflexão: 
“Tôda sociedade produz a educação necessária à sua perpetuação.” 


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