Criatividade, pesquisa e inovação: o caminho surpreendente da descoberta
Toda descoberta é uma conquista cognitiva que implica invenção e
criação. Inovação é, sobretudo uma capacidade de a mente combinar elementos
lúdicos e lógicos, extrair de dados aparentemente banais elementos novos e
inusitados, produzir respostas divergentes e criativas, gerar hipóteses,
cenários e soluções diferentes de maneira quase casual, até fora de uma lógica
estruturada. Sendo assim, a mesma é definida como a capacidade de administrar o
conhecimento para gerar vantagens competitivas mediante a produção de novos
bens, processos e sistemas organizacionais.
A aplicação
inovadora aos sistemas de empresa, da pesquisa, das instituições e da cultura
requer olhares não convencionais, estratégias cognitivas originais e criativas
sobre a mente. As agências de ensino estão tornando incolores a descoberta e o conhecimento,
as escolas parecem extremamente tão rígidas quanto políticas e,
simultaneamente, demasiado administrativos para transformações inovadoras ou
para admitir em seu interior percursos de educação livre, eficaz e responsável.
Somente um novo ponto de vista torna a percepção menos simplista e induz a
pensar coisas as quais ninguém tinha pensado antes. Então, para ver além do que
todos viram é necessária uma nova percepção.
Von Foester
sugere: (...) já que nosso sistema educacional é concebido para gerar cidadãos
previsíveis, ele objetiva amputar aqueles indesejados estados internos que
geram imprevisibilidade e novidade. Isso é demonstrado de modo incontestável
por nosso método de verificação, o exame, durante o qual só se fazem perguntas
das quais já conhecemos (ou já está definida) a resposta, que o estudante deve
decorar. Essas perguntas, eu as chamarei de ‘perguntas ilegítimas’. Não seria
fascinante pensar um sistema educacional voltado à desbanalização dos
estudantes, ensinando-lhes a fazer ‘perguntas legítimas’, perguntas cuja
resposta não se conhece?
Além do
mais, a maioria das organizações fundamentadas em estruturas de tipo piramidal
tende a reduzir o desenvolvimento de novas abordagens na solução de problemas.
Sendo assim, para que o fluxo das ideias dos indivíduos inovadores não seque,
empobrecendo assim os sistemas, é necessário não só aceitar, mas exaltar as
desordenadas verdades que estão na origem da invenção, da criação e, em geral,
de tudo o que favorece a mudança. Persuadir os outros, sobretudo os líderes de
opinião, a assumir uma idéia inovadora é fator fundamental para que ela possa
ser realizada.
A ideia que está se disseminando é a de uma ciência que incentiva
o interesse nas aplicações e tecnologias, ao passo que desincentiva os que
estão interessados na ciência como empreitada cognitiva. A política cultural e a divulgação científica
que nos são diariamente oferecidas não se preocupam em explicar as descobertas
positivas da ciência, mas, em geral, em defender uma ontologia materialista. A
imagem que se transmite da ciência é uma imagem absolutamente deformada e
ideológica.
A inovação é
uma capacidade de a mente inferir significados inusitados a partir de
informações aparentemente banais; produzir respostas divergentes e criativas;
olhar a realidade convencional com uma óptica insólita; gerar, em suma,
hipóteses, cenários e soluções diferentes de maneira quase casual, mesmo fora
de uma lógica estruturada.
Karl Gauss,
o criador das geometrias não euclidianas, anotou que a existência de uma
geometria não tradicional se lhe apresentou com as características de uma
verdadeira fulguração, um momento de turbulência. Por sua vez, Kekulé, grande
químico do século XIX, afirmou ter sonhado com uma serpente mordendo a própria
cauda, e que essa imagem lhe sugeriu a fórmula da estrutura cíclica do benzeno
que estava procurando havia um bom tempo. Portanto, há indicações comprovadas
ao longo dos séculos militando a favor de um pensamento inovador que tem um
andamento sequencial e sistemático: aos saltos, e não gradualmente, por
analogia e divergência, e não por estratégias convergentes.
A analogia é
um aspecto crucial da inovação. Com efeito, ela desencadeia mecanismos mentais
que permitem combinar ou recombinar as ideias de maneira nova ou associar
aspectos da realidade que até determinado momento não pareciam correlacionados.
O pensamento analógico se baseia em passos consecutivos que implicam a
identificação e a seleção de uma fonte de analogias e sua adaptação ao que é
desconhecido.
A inovação
nasce também das contaminações que provêm de experiências diferentes das habituais.
A divergência é um valor que deve ser reconhecido e utilizado por meio da
inclusão dos “rebeldes” para dar nova energia aos sistemas. Logo, um aspecto
fundamental da inovação é sermos divergentes.
Um
pensamento inovador é um saber fisiológico aberto, que se contrapõe a um saber
patológico fechado; um saber que é mais vereda que método; mais caminho do que
meta; um horizonte largo; uma transformação incessante, aberta às perguntas de
sentido, aos cruzamentos, às sugestões, aos fascínios, às descobertas.
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